Fonte:
Os demônios de
Temer e o fracasso dos protestos de domingo
O governo
está acuado em sua perversidade, ilegitimidade e fraqueza moral. A cada dia que
passa o projeto inaceitável de Michel Temer de acabar com direitos essenciais
dos cidadãos enfrenta pressão crescente das ruas, de instituições, do
Judiciário e até mesmo da base aliada no Congresso.
Para se
salvar, Temer recorre ao que lhe é possível, inclusive as manobras casuísticas,
como a anunciada decisão de excluir servidores públicos estaduais e municipais
da proposta de reforma da Previdência. Neste caso, ele procura cinicamente
jogar para prefeitos e governadores o desgaste de medida tão impopular. Tenta,
dessa forma, preservar o que está lhe escapando das mãos graças ao repúdio da
sociedade.
Mas mesmo
acossado, o presidente que articulou o golpe não se cansa de encher seu
caldeirão de maldades, como acabamos de ver com a aprovação do projeto que
introduz a terceirização ilimitada. A felicidade dos adeptos do
ultraliberalismo, no entanto, está indo por água abaixo. É só ver o que
acontece no país.
A grande virada
contra essa onda de atentados ao povo começou em 08 de março com a mobilização
das mulheres em todo o Brasil contra a Reforma da Previdência. Um dos "8
de março" mais bonitos e politizados de que já participei. No dia 15 de
março mais de um 1 milhão de brasileiros foram novamente às ruas de
praticamente todas as capitais gritar contra a política de desmonte de Michel
Temer. O mais bonito disso tudo é que quem protestava não eram apenas os
militantes da esquerda. Não. Eram pessoas que têm consciência plena do que
significarão essa reforma da Previdência e o ataque a outras conquistas. Foi
simplesmente um dia histórico.
O que
aconteceu em 15 de março é, até aqui, o ponto alto de uma realidade que se
torna cada vez mais evidente: os entreguistas começam a se apavorar com a
reação a tanta truculência junta. Os próprios parlamentares aliados resistem em
aceitar mudanças tão drásticas na Previdência. Para se ter uma ideia, o projeto
da reforma enviado pelo governo recebeu 164 emendas na comissão especial da Câmara
dos Deputados, a grande maioria apresentada pelos partidos que apoiaram o
golpe.
Essa
resistência ficará mais clara ainda pelo fracasso das mobilizações do Vem Pra
Rua e do MBL neste último domingo. Convocaram o povo a apoiar as reformas,
principalmente a da Previdência, e a Lava Jato. Não foram correspondidos. Não
tem como enganar a todos todo o tempo. O povo brasileiro está vendo que o golpe
foi contra seus direitos!
Se a
proposta da Reforma da Previdência chegar ao Senado – o que pode não acontecer,
devido ao claro declínio político de Temer –, a reação será mais intensa. Nós
da oposição não daremos descanso a essa gente. O senador Paulo Paim (PT), por
exemplo, conseguiu aprovar a criação de uma CPI para investigar a real situação
de toda a Seguridade Social. Será que ela é mesmo deficitária, como prega o
governo?
Recentemente,
outro episódio reforçou o combate às ações dos que tomaram o poder. A
Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, do Ministério Público Federal,
encaminhou ao Congresso uma Nota Técnica sobre a reforma da Previdência. Na
avaliação do órgão, as medidas defendidas pelo governo, como o aumento para 65
anos da idade mínima para a aposentadoria, são uma afronta à Constituição e,
por isso, passíveis de questionamentos judiciais.
Por sua vez,
a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou dura nota
conclamando os católicos a se mobilizarem contra a reforma que pode deixar
milhões de brasileiros sem aposentadoria e sem nenhum amparo social. A Igreja,
como sempre, está do lado dos mais humildes.
Além do
Ministério Público e da CNBB, a Justiça também começa a se pronunciar sobre a
reforma da Previdência. A 1ª Vara Federal de Porto Alegre determinou a
suspensão da propaganda oficial, que tem como mote "reformar hoje para
garantir o amanhã". Da mesma forma, a 21ª Vara Federal da Seção Judiciária
do Distrito Federal deferiu, parcialmente, pedido de liminar formulado pela
Federação Nacional dos Servidores da Justiça Federal e do Ministério Público
Federal (Fenajufe) contra a União. Essas entidades questionam o suposto déficit
da Previdência.
No caso da
terceirização irrestrita, a reação foi imediata. A Associação Nacional dos
Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) afirmou que o último crime de
Temer instituirá como regra a precarização do trabalho. Ao mesmo tempo, o
Ministério Público do Trabalho (MPT) decidiu pressionar o governo a vetar
totalmente esse projeto que simplesmente acaba com a CLT. Nossa bancada de
oposição na Câmara dos Deputados já prepara ação judicial para impedir que a
Lei aprovada semana passada não entre em vigor após sua sanção por Temer.
Desde a
consumação do golpe, a impressão que tenho é que, com este governo, abriram-se
as portas do inferno e os demônios estão se abatendo contra o povo brasileiro –
demônios da reforma da Previdência, da reforma trabalhista, da terceirização.
Os demônios que retiram direitos e conquistas e que querem que a vida do povo
brasileiro vire realmente um inferno.
Mas podem
ter certeza, o cerco a Michel Temer está se fechando e a pressão do povo e de
diversos segmentos da sociedade vai exorcizar esse mal que ainda insiste em nos
afligir, mas que terá vida curta.
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