Fonte:
RUIU O PODRE
REINO DE GOLPENHAGUE
O pânico chegou ao governo e a seus apoiadores. Como na trama dinamarquesa de Hamlet, rui em enredos escabrosos o reino brasileiro de Golpenhague. Apesar do apoio da mídia, que tenta criar um clima artificial de otimismo, com o seu patético “parou de piorar”, não se pode mais esconder que o golpe fracassou em todas as frentes.
Com efeito,
o golpe foi dado com os seguintes pressupostos:
1) A crise econômica se resolveria com relativa
facilidade e presteza, assim que Dilma Rousseff fosse afastada.
2) A “sangria” seria estancada e os efeitos da
Lava Jato ficariam circunscritos seletivamente ao PT, como era o desejo de seus
apoiadores desde o início.
3) O governo Temer manteria uma monolítica e
ampla base parlamentar e os manifestantes neoudenistas de classe média se
encarregariam de dar sustentação social ao governo sem votos.
4) As reformas draconianas contra direitos
previdenciários e trabalhistas e a desconstrução do Estado de Bem-Estar seriam
realizadas sem maior resistência popular, dado o refluxo da esquerda e dos
movimentos sociais.
5) A liderança popular de Lula seria
neutralizada com relativa facilidade pela Lava Jato, o que asseguraria a
transição política conservadora em 2018.
Pois bem,
nenhum desses pressupostos se sustentou.
Quanto ao
item 1, a “fada da confiança”, para usar a expressão irônica de Paul Krugman,
veio ao Brasil, ao Reino de Golpenhague, e não gostou do que viu. Famílias e
empresas com níveis recordes de endividamento, taxas de juros e spreads
estratosféricos, massa salarial em declive acentuado e desemprego maciço.
Também viu
que os mecanismos de que a economia brasileira dispõe para alavancar seu
crescimento estão sendo desmontados. A cadeia do petróleo e gás, responsável
por 13% do PIB está desarticulada, junto com a construção civil pesada. Até a
produção de carnes, fundamental para nossas exportações, foi atrapalhada pelas
trapalhadas de procuradores e delegados ignorantes e sedentos de holofotes. A
política de conteúdo local e outros mecanismos de estímulo à economia nacional
já não existem mais. Poços do pré-sal, nosso passaporte para o futuro, e do
pós-sal estão sendo vendidos a preços aviltados. O crédito público, inclusive o
do BNDES, instrumento fundamental para superação do primeiro impacto da crise
mundial, em 2009 e 2010, está estancado, justamente no momento em que crédito
privado minguou.
Além disso,
o Brasil está presidido por um governo sem votos e sem nenhuma credibilidade, o
qual não gera confiança em ninguém. Tudo isso deixou a assustadiça fadinha
bastante desconfiada. Pensa ela que o Brasil foi colocado, com o austericídio
golpista, numa posição semelhante à da Grécia. A Grécia também parou de piorar.
Só que ficou bem pior e não consegue se reerguer.
Embora se
considere natural que o decréscimo econômico tenda a ser menor este ano, após
duas quedas brutais do PIB, nada indica que a recuperação tenha voltado. Ao
contrário, as previsões mais confiáveis apontam para nova queda do PIB, em
2017. De qualquer modo, a sonhada recuperação está longe de ocorrer, o que vem
frustrando as expectativas dos propugnadores do golpe. Agora, com anúncio do
novo rombo orçamentário de R$ 58 bilhões do primeiro bimestre e com o provável
aumento de impostos, o governo sem votos começa a ficar sem apoiadores firmes
entre nossas oligarquias neoliberais. À exceção de alguns investidores
externos, que estão comprando nosso patrimônio a preço de banana, todos estão
frustrados com o pífio desempenho econômico do rei de Golpenhague. Para
completar o quadro, o governo do golpe continua e continuará isolado, no plano
externo.
Com respeito
ao item 2, os artífices do impeachment sem crime de responsabilidade cometeram
um erro de cálculo. Não levaram em consideração que essas operações, e seus
agentes, têm dinâmica e interesses próprios. Têm inércia relativamente
independente. Assim, embora a Lava Jato tenha incidido pesada e seletivamente
contra o PT, desempenhando papel central no golpe, ela acabou atingindo também
o PMDB, embora venha poupando visivelmente o PSDB. As últimas informações e
vazamentos mostram claramente que a presidenta honesta foi substituída por uma
turma envolvida até o pescoço com desvios e escândalos. A “turma da sangria”. A
turma da fisiologia histórica e pesada. Mesmo com a proteção da mídia e com a
possível acomodação que ocorreria no STF, o governo golpista não consegue
esconder que definitivamente há algo bastante podre no Reino de Golpenhague. O
discurso moralista hipócrita voltou-se contra seus autores.
No que se
relaciona ao item 3, as expectativas também estão se frustrando. Nos debates
sobre a previdência e a terceirização, ficou evidente que a base governamental
começa a fraturar e a exibir desvios. Na votação da terceirização irrestrita,
que institui legalmente a precarização do trabalho no Brasil, a base
parlamentar do golpe mostrou-se bem mais acanhada que na votação da suicida
Emenda Constitucional nº 95, de 2016. E poucos parecem estar dispostos a votar
favoravelmente ao pior sistema previdenciário do mundo, que obrigará
trabalhadores brasileiros, submetidos à informalidade, precariedade e
rotatividade infames a contribuir quase meio século para poderem se aposentar
com proventos integrais. Por outro lado, o retumbante fracasso da última
mobilização da direita demonstrou que o apoio popular (de classe média) ao
governo do golpe despencou.
Em relação
ao item 4, houve gigantesco erro de avaliação política. Os golpistas
confundiram as manifestações das classes médias tradicionais e brancas com o
povo brasileiro. Acharam que aquilo era o Brasil inteiro se manifestando.
Erraram. Eram apenas os eleitores de
Aécio, associados à extrema direita protofascista e turbinados, em seu ódio,
pelo neoudenismo hipócrita e midiático. Erraram de novo ao supor que, com o
refluxo defensivo das esquerdas e dos movimentos sociais, a população iria
aceitar passivamente os atentados contra seus direitos e suas esperanças. Ao
contrário, as últimas e volumosas manifestações contra a cruel Reforma da
Previdência descortinaram um fenômeno definitivo: a ofensiva política mudou de
lado. Quem está na defensiva agora é a direita.
Com respeito
ao último item, apesar dos esforços frenéticos e sistemáticos da mídia, de
procuradores, de juízes e dos derrotados nas eleições de 2014, o fracasso beira
o patético. De fato, até agora as conduções coercitivas ilegais, os vazamentos
seletivos, as escutas sem amparo legal, o uso abusivo das prisões provisórias
como elemento de pressão para delações direcionadas e outras tantas
irregularidades produziram apenas um power point infantil, que escancara
convicções partidárias e se omite na demonstração de provas e indícios. De
acordo com o preclaro power point, o "maior esquema de corrupção da história"
produziu, para o seu "comandante", dois pedalinhos e um barco de
lata.
Lula, a
maior esperança (provavelmente a única) para a imprescindível conciliação
política do Brasil e para a retomada do desenvolvimento, não cessa de crescer
nas pesquisas. Em Monteiro, Paraíba, mostrou que tem dimensão humana e política
inigualável. Lula foi o maior presidente da história do país, o único líder
nacional que adquiriu envergadura mundial. O Cara. Com as contínuas trapalhadas
do golpe, tende a ser imbatível em 2018. Só o deteria uma arriscadíssima e
ilegal operação partidária-judicial.
Em
contraste, a corte do Reino de Golpenhague é composta por anões políticos e
morais, figuras menores, envolvidas, como no Reino da Dinamarca da trama de
Hamlet, em tramas sórdidas e podres. Tramas contra o Brasil e seu povo.
De outro
enredo shakespeariano, Macbeth, já se vê o bosque de Birnam, a floresta da
democracia, caminhando em direção ao castelo de Dunsinane.
O golpe está
perdido. Vai se encontrar na lata de lixo da história.
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